segunda-feira, 26 de setembro de 2011


Desde que nasci, não sei a que geração pertenço
          
             Lembro-me de ouvir uma professora dizer numa aula que pertencíamos à "geração rasca". A partir dos meus 9 anos acreditei, pois, que pertencia à essa geração.
            Sorte a minha, ainda não tínhamos tido tempo para fazer nada e já este rótulo me era colado.
          Mais tarde apercebi-me que tudo aquilo tinha sido um erro da professora. A geração rasca não era a minha e, afinal de contas, eu pertencia à "geração morangos", em referência aos Morangos com Açúcar.
             Ridícula e inútil, portanto...
            Entre uma infinidade de nomes para a minha geração, surgem agora os de "geração sem remuneração" e de "geração à rasca".
       É um facto.
           Estamos "à rasca" e se há coisa que falta é dinheiro.
          Mas, caramba, será que fomos assim tão inúteis este tempo todo?
             Nós, a "geração rasca", a "geração morangos", a "geração à rasca", a "geração sem remuneração", a "geração casa dos pais", a "geração nem nem" (nem estudam nem trabalham), a geração... uf uf uf!
            Deixem-me respirar!
          Será que nós somos assim tão culpados?
        Fomos nós que deixámos o país chegar a este ponto de sem-vergonha?
            Fomos nós que deixámos o país chegar a este ponto de endividamento?
          Fomos nós que metemos estes pulhas no governo?
             Fomos nós?
           Tentemos olhar um bocadinho para trás.
               Criticam-nos porque vivemos em casa dos pais até muito mais tarde,
           criticam-nos por não sabermos como é dura a vida, criticam-nos por termos sempre tudo sem ter de lutar por isso.
              No outro dia li um texto do Miguel Sousa Tavares que achei delicioso:
           «Vi uma manifestação de pais, alunos e professores de uma escola pública, onde,  dizem eles, chove em alguns locais e faz frio porque não há aquecimento na escola».
M.S. Tavares, Expresso, 5/2/11.
              Ora, então, ao longo do texto o autor deliciava-se a dizer que era ridícula a manifestação, porque chover em alguns locais (dentro das salas de aula) e fazer frio é perfeitamente normal.
               Chega ao ponto de sugerir aos meninos que, se têm frio, comprem cobertores!                                                                                                       Tudo isto porque, segundo ele, no seu tempo (adoro o velho não-argumento do "meu tempo") ele ia para escola no meio da serra, tinha de andar a pé pelo meio de montes com um frio desgraçado e, ainda assim, está vivo e bem na vida.
              Pois então, segundo Miguel Sousa Tavares, se os pais dos pais dos pais dos pais dos pais dos pais dos pais... dos pais dos nossos pais viviam em cavernas, não tinham descoberto o fogo e andavam nus, então nós, em 2011, teríamos também de andar da mesma maneira.
             É com este tipo de crítica que tenho convivido durante os 14 anos da minha existência.
              A culpa não é da falta de condições que, no ano de 2011, é inaceitável. A culpa é da "geração" que está mal habituada.  
              A culpa não é dos professores que tivemos que, salvo raras excepções, foram péssimos, horríveis, medonhos.
              A culpa é nossa, porque não estudamos o suficiente.      
               A culpa não é das pessoas que pagam quantias elevadíssimas de dinheiro a outras pessoas para escreverem barbaridades como estas nos seus jornais.
             A culpa é nossa, porque com o nosso hábito de protestar quando algo está mal lhes damos razões para que eles falem "do seu tempo" dizendo que esse é que era bonito. 
              A culpa não é das pessoas que deixaram que o poder no nosso país esteja entregue a uma cambada de indivíduos sem carácter, sem palavra, sem ponta por onde se lhe pegue.
              A culpa é nossa, porque nos abstemos.
              A culpa não é das pessoas que construíram uma sociedade na qual se reelege um primeiro-ministro que, em termos éticos, está enterrado até à ponta dos cabelos.
              A culpa não é nossa das pessoas que só deixam de gostar desse mesmo primeiro-ministro quando ele adopta medidas económicas duras.
             A culpa não é das pessoas que se estão bem nas tintas para a ética.
              A culpa não é das pessoas que só se sentem revoltadas quando começam a mexer no seu dinheiro.
              Não, meus caros. A culpa é nossa! 
             NOSSA, QUE ANDAMOS A VIVER EM CASA DOS PAIS PORQUE NÃO HÁ EMPREGO PARA NÓS E NÃO TEMOS FORMA DE NOS TORNARMOS INDEPENDENTES.  

        NOSSA, QUE TEMOS DE IR ESTUDAR PARA O ESTRANGEIRO EM BUSCA DO SONHO DE ESTUDAR MEDICINA, PORQUE O NOSSO PAÍS, EMBORA COM FALTA DE MÉDICOS, MANTÉM POUQUÍSSIMAS VAGAS PARA QUEM MÉDICO QUISER SER.  

  NOSSA, PORQUE VIVEMOS ANOS E ANOS A OUVIR MIGUÉIS SOUSAS TAVARES A ESCREVER BARBARIDADES DESTAS SOBRE NÓS E NADA FAZEMOS.  

 

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